sexta-feira, 19 de abril de 2013

RETINA




“Iste ego sum: sensi, nec me mea fallit imago.” [Ovídio]


Sempre teve olhos tristes
nunca soube, num gesto,
romper melancolias e estancar
dores que permanecem.

Pensou camuflar a tristeza
tingindo de azul sorrisos
apegando-se aos detalhes
belos e fugidios:

Carros que passam
corpos que caem ou
vozes simpáticas que saúdam
novos tempos, encontros...

Escreveu cartas, decorou versos
traduziu sentimentos alheios
a fim de ganhar voz e vida.

Fez-se outro, logo cria
emudecendo desejos ruins ou
vontades de sono e medo.

No espelho permaneceu, tão somente,
aquele olhar e dor que lhes
são insoluvelmente próprios.

Outono, 2013.







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